A pecuária de corte é uma das principais atividades econômicas do Brasil, colocando o país entre os maiores produtores e exportadores de carne bovina do mundo. Com um rebanho de mais de 200 milhões de cabeças, o setor representa uma importante fonte de renda, emprego e desenvolvimento para milhares de produtores rurais.
Dentro desse cenário, a nutrição para bovinos de corte se destaca como um dos pilares fundamentais para garantir produtividade, saúde animal e rentabilidade. Alimentar corretamente o rebanho não significa apenas fornecer comida, mas sim oferecer uma dieta balanceada, adequada a cada fase de desenvolvimento do animal e às condições ambientais e de manejo.
Neste artigo, vamos apresentar as melhores práticas de nutrição para bovinos de corte, com orientações específicas sobre manejo de pastagens, suplementação estratégica e alimentação em diferentes fases da vida dos animais. O objetivo é oferecer um conteúdo prático que ajude o produtor a melhorar o desempenho do rebanho e maximizar seus lucros.
Importância da nutrição na criação de bovinos de corte
A nutrição adequada tem impacto direto no crescimento, desenvolvimento e qualidade da carne produzida. Animais bem nutridos apresentam:
- Ganho de peso mais rápido e eficiente;
- Maior resistência a doenças;
- Melhores índices reprodutivos;
- Carcaças com melhor acabamento e rendimento.
Além disso, a alimentação representa entre 60% e 70% dos custos de produção na bovinocultura de corte. Portanto, uma dieta bem planejada pode significar maior lucratividade para o pecuarista, seja por reduzir perdas, melhorar o desempenho zootécnico ou encurtar o tempo de abate.
Manejo de pastagens
Tipos de pastagens e características nutricionais
As pastagens são a base da alimentação na pecuária extensiva. No Brasil, as mais comuns são:
- Braquiárias (Brachiaria spp.) – Boa produção de massa, rusticidade, mas menor valor nutricional.
- Panicuns (Panicum maximum, como Mombaça e Tanzânia) – Maior teor de proteína e produtividade, exigem mais manejo.
- Andropogon, Setária e outras forrageiras tropicais – Variedade de usos, com diferentes valores energéticos e proteicos.
Cada tipo de forrageira tem um perfil nutricional diferente, e o pecuarista deve escolher a mais adequada para sua região, solo e sistema de produção.
Técnicas de manejo para otimizar o uso do pasto
Adubação correta:
A adubação é essencial para manter a produtividade e a qualidade nutricional das forrageiras. A aplicação de adubos minerais ou orgânicos, baseada em análises de solo, repõe os nutrientes extraídos pelas plantas e garante que o capim cresça com vigor, apresentando maior teor de proteína bruta e digestibilidade.
Controle do tempo de descanso:
Cada espécie forrageira tem um período ideal de descanso para se recuperar após o pastejo. Esse intervalo permite o acúmulo de reservas energéticas, a rebrota das folhas e a manutenção do vigor da planta. Um erro comum é retornar os animais ao piquete antes que o capim esteja pronto, o que enfraquece a planta, reduz a produção de massa verde e compromete a sustentabilidade da pastagem.
Evitar superpastejo:
O superpastejo ocorre quando o número de animais ou o tempo de permanência no piquete é maior do que o recomendado, levando ao consumo excessivo da forragem. Isso resulta em menor cobertura do solo, favorecendo a erosão, o surgimento de plantas daninhas e a compactação. Além disso, o valor nutritivo do pasto remanescente diminui drasticamente. Para evitar esse problema, é importante monitorar a lotação animal e adotar práticas como o ajuste da carga animal conforme a oferta de forragem, além do uso de divisões em piquetes menores.
Pastejo rotacionado
O pastejo rotacionado é uma das melhores estratégias de manejo intensivo de pastagens. Consiste em dividir a área de pasto em vários piquetes e permitir que os animais permaneçam por um curto período em cada um. Após a saída do gado, o piquete entra em descanso, permitindo a recuperação da forragem antes de um novo pastejo.
Essa técnica favorece a utilização mais eficiente da pastagem, pois impede que os animais escolham apenas as partes mais tenras e nutritivas do capim, promovendo um consumo mais uniforme. Além disso, o pastejo rotacionado facilita o controle de pragas e parasitas, já que a interrupção do uso do piquete quebra o ciclo de vida de muitas espécies nocivas.
Outros benefícios importantes do pastejo rotacionado incluem:
- Maior aproveitamento da forragem: O pastejo é mais uniforme, o que reduz o desperdício de capim e melhora o desempenho animal por hectare.
- Melhora da estrutura do solo: Com menor compactação e mais tempo para as raízes se desenvolverem, o solo retém melhor a umidade e os nutrientes.
- Menor infestação por parasitas: O intervalo entre as passagens dos animais dificulta a sobrevivência de parasitas no ambiente, reduzindo a necessidade de tratamentos químicos.
Além disso, o pastejo rotacionado facilita o controle do manejo como um todo, permitindo planejamento estratégico do fornecimento de suplemento, acesso à água, sombra e mineralização. É uma prática que exige mais organização, mas oferece resultados superiores em produtividade, sustentabilidade e rentabilidade.
Suplementação estratégica
A suplementação alimentar é uma ferramenta fundamental para garantir que os bovinos recebam todos os nutrientes de que necessitam para manter a saúde, o desempenho zootécnico e o ganho de peso esperado,
especialmente em períodos críticos como a seca ou em sistemas intensivos de produção. Mesmo em fazendas com boas pastagens, a suplementação é necessária para corrigir deficiências da dieta base, melhorar o aproveitamento da forragem e acelerar os resultados produtivos.
Tipos de suplementos
Os suplementos podem ser divididos em três categorias principais, cada uma com função específica no metabolismo animal:
- Minerais:
São essenciais para funções fisiológicas como imunidade, reprodução, metabolismo energético e formação óssea. Entre os mais importantes estão o fósforo, o cálcio, o zinco, o cobre, o manganês e o selênio. A deficiência de minerais pode causar desde problemas reprodutivos até prejuízos no ganho de peso e maior incidência de doenças. O fornecimento deve ser contínuo, em cochos cobertos e de acesso livre, respeitando a recomendação técnica para a categoria animal. - Proteicos:
Fornecem proteína degradável no rúmen, fundamental para manter a atividade dos microrganismos que fermentam a fibra da pastagem. São especialmente importantes durante o período da seca, quando o capim perde valor proteico. Suplementos como farelo de soja, farelo de algodão e ureia pecuária (em proporções seguras) são bastante usados nessa fase. - Energéticos:
Contêm altos níveis de energia digestível e são indicados principalmente para animais em terminação, que demandam maior aporte energético para converter alimento em carne rapidamente. Ingredientes como milho moído, sorgo, polpa cítrica e farelo de trigo são fontes comuns. Esses suplementos são fundamentais em confinamentos e sistemas semi-intensivos, onde o objetivo é obter altos ganhos de peso diário (GPD) e carcaças com bom acabamento.
Além disso, existem suplementos proteico-energéticos, que combinam os dois nutrientes e são muito utilizados na seca, quando há necessidade de suplementação mais completa com menor volume de consumo.
Quando e como suplementar
A escolha da estratégia de suplementação depende de vários fatores. Os principais são:
- Qualidade do pasto disponível:
Pastagens de alta qualidade nutricional durante o período das águas podem exigir apenas suplementação mineral. Já na seca, com queda na digestibilidade e na proteína bruta do capim, é essencial fornecer suplementos mais completos. - Fase de desenvolvimento dos animais:
Bezerros, novilhos em crescimento, vacas em lactação e animais em terminação têm necessidades nutricionais diferentes. Bezerros desmamados, por exemplo, se beneficiam de suplementos com proteína de alta digestibilidade para manter o crescimento. Já vacas prenhes precisam de suplementação específica para manter a condição corporal e garantir uma boa gestação. - Meta de produtividade:
Sistemas com metas mais agressivas de produção (como abate precoce ou maior taxa de prenhez) exigem planejamento nutricional mais intensivo. O uso estratégico de suplementos pode encurtar o tempo até o abate e reduzir os custos totais por arroba produzida.
Durante o período seco, quando o capim perde grande parte do valor nutritivo, o uso de suplementos proteico-energéticos e minerais é fundamental para manter o desempenho. Já em sistemas intensivos como semi-confinamento ou confinamento total, os animais recebem uma dieta completa e balanceada, formulada de acordo com metas específicas de ganho de peso e acabamento de carcaça.
A frequência de fornecimento, o tipo de cocho, o local de acesso e a adaptação dos animais ao consumo também devem ser bem planejados para evitar desperdícios, intoxicações ou subconsumo.
Cálculo das necessidades nutricionais
Para formular uma dieta realmente eficiente, é essencial levar em conta:
- Peso e idade do animal:
Animais mais jovens, em fase de crescimento, possuem maior exigência proteica. Animais em terminação demandam mais energia. A dieta deve ser proporcional ao estágio fisiológico e ao tamanho do animal. - Taxa de ganho de peso desejada:
Quanto maior o ganho de peso diário almejado, maior será a exigência nutricional. Dietas mal formuladas podem atrasar o abate ou comprometer o desempenho. - Tipo de sistema de produção:
Em sistemas de pasto com suplementação mínima, o foco pode ser apenas a correção mineral. Já em sistemas intensivos, é necessário fornecer dietas completas e ajustadas frequentemente com base no desempenho observado.
O ideal é realizar análises bromatológicas das forragens e dos ingredientes disponíveis na propriedade, para saber exatamente o valor nutricional de cada alimento. A partir disso, o zootecnista ou nutricionista animal pode formular uma dieta balanceada, que atenda as necessidades sem excessos ou carências — o que resulta em melhor desempenho e menor custo por arroba produzida.
Nutrição em diferentes fases da vida
Bezerros: do nascimento ao desmame
- Colostragem nas primeiras horas é essencial para imunidade.
- Após os primeiros dias, a introdução de creep feeding (ração específica para bezerros) favorece o ganho de peso e a transição alimentar.
- No desmame, deve-se evitar perdas abruptas de peso com dieta adequada e suporte mineral.
Novilhas e novilhos em crescimento
- Exigem energia e proteína para sustentar o crescimento ósseo e muscular.
- Suplementação estratégica pode antecipar o abate e melhorar a taxa de conversão alimentar.
- O uso de sal proteinado é comum nesta fase.
Vacas em lactação e gestação
- Vacas prenhes ou em lactação precisam de maior aporte energético e mineral.
- A nutrição inadequada pode causar abortos, baixa produção de leite e baixa fertilidade.
- Em sistemas de cria, é essencial garantir o escore corporal adequado.
Animais em terminação
- O objetivo é maximizar o ganho de peso e o acabamento de carcaça.
- Pode-se optar por pasto com suplementação intensiva, semi-confinamento ou confinamento total.
- A dieta deve ser rica em energia (milho, polpa cítrica), com proteína de alta digestibilidade e fibra adequada.
Dicas práticas
Como avaliar a condição corporal dos animais
O escore de condição corporal (ECC) é uma ferramenta visual e tátil para avaliar a reserva energética do animal. Ele vai de 1 (muito magro) a 5 (muito gordo). Um ECC entre 2,5 e 3,5 é ideal para a maioria das fases produtivas.
Como identificar deficiências nutricionais
- Falta de fósforo: animais lambendo terra ou ossos.
- Deficiência de proteína: perda de peso, pelo opaco.
- Falta de energia: baixo desempenho, apatia.
- Deficiência mineral: dificuldade reprodutiva, doenças recorrentes.
Como escolher os melhores alimentos e suplementos
- Dê preferência a alimentos com boa digestibilidade e custo-benefício.
- Avalie a procedência dos suplementos.
- Faça análise de solo e forragem periodicamente.
Conclusão
Uma nutrição eficiente é a base para uma pecuária de corte produtiva, saudável e lucrativa. O manejo adequado da pastagem, o uso estratégico da suplementação e o ajuste das dietas conforme a fase de vida do animal são pontos cruciais para o sucesso da atividade.
Investir em alimentação de qualidade, monitorar o desempenho do rebanho e buscar apoio técnico são atitudes que fazem a diferença na rentabilidade do negócio.